Monday, April 29, 2019

O Beijo de Tyler



Revela logo o que levas
No profundo do teu peito
Nessa bizarra e vil alma
De ser humano imperfeito

Tuas mil hipocrisias
Todas já estão desnudadas
Pífios se fazem teus feitos
Tolas as suas palavras

Basta de emudecimento
Basta com essas desculpas
Basta de adiar os atos

Mata esse fingido tormento
Recupera tua honra nula
Já chega de bancar o fraco

(2006)

Oceano de abejas

te amo, te odio
te quiero tan cerca
tu casa, tu auto
tus medias mas viejas
que lindo, que asco
que cosa tan fea
fuck you, fuck you
oceano de abejas

When we're nothing but polvo de estrellas...

(2006)

Thursday, September 21, 2006

Happy Hour

Ahhh, finalmente.
Extenuado. Depois das horas de trabalho, do trânsito engarrafado da metrópole (isso não era assim quando eu tinha meus 20 anos... aliás, isso aqui não era nem sequer uma metrópole), do estacionamento e do elevador até o nono andar, cheguei. E aqui estou, frente à porta do apartamento.
Agora sim. Entrar. Ligar as luzes da sala. Largar chaves, carteira e celular (desligado) na mesa do hall. Tirar os sapatos e as meias. Soltar os primeiros botões da camisa.
Ligar a TV, só um pouco, só pra pegar o final do Jornal Nacional (esse sim, o mesmo desde os meus 20 anos). Ou melhor, pegar o áudio do Jornal Nacional, lá da cozinha. Preparar, sem pressa, um drink bem gelado - qualquer coisa de brandy, ou um mojito (aproveitando pra beliscar o pão de alho). De volta à sala, desligar a TV e ligar o som. O lindo, caro e potente aparato de som, daqueles de woofers, subwoofers, dolby surrounds e mais um monte de tipos de caixas espalhadas por todo o ambiente.
Deftones?
Sim. Hoje, Deftones.
My Own Summer.
Respirar cada 'shove it' que entra pelos ouvidos. Mas com calma. Com tranquilidade. Se soltar no sofá. Apoiar a cabeça. Fechar os olhos. Mergulhar no nada. Relaxar. Mesmo.

Ahhhhhhhhh







delícia!
Só eu, meu brandy e meu som. Hoje os piás vão ter que esperar.

-Piás? Putz, quase 10 anos depois e a gente ainda se chama por 'piá', hehehe...

***
(pro Robz)

Thursday, August 31, 2006

Check The Clouds... - Parte #02

"Wood panel wagon carpool dragons killing me again"

Meses depois, Leon andava pelos corredores do condomínio, em certa noite. Na piscina, ao lado, reconheceu a gigante sombra, que, em vez de voar como anteriormente, nadava, o acompanhando de leve.
-Sabia, sabia que era você de novo. Sabia.
No lugar dos ossos, o ser estava formado por uma substância que parecia a mistura de sombras e água.
-...
-Porquê demorou tanto tempo, dessa vez? E porquê mudou de ambiente? Que te aconteceu?
-...
Leon, com algum empenho, conseguia escutar o arfar de respiração vindo da criatura, que o acompanhou por um bom tempo - a piscina já havia ficado pra trás, mas o rapaz sentia que o par de olhos de rubi ainda lhe observava.
-Ultralacônico como sempre, né?

"Acho que até entendo... Entendo? Ah, tá..."

-Mas valeu a visita, de qualquer maneira.
O jovem falou a última frase com um suti sorriso no rosto.
Antes de sair da vista dos olhos rutilantemente mortiços, Leon teve certeza de ter ouvido um quase-grunhido de aprovação.
Estava correto. Na piscina, uma boca feita de água e sombras, com algumas dezenas de presas afiadas, sorria, satisfeita. E pensava pensamentos que, traduzidos, dificilmente fariam sentido a algum ser humano*.
Mesmo sem compreender coisa alguma, Leon também se sentia um pouco melhor. Paulo o esperava. Tinham muito a discutir sobre o andamento de seus projetos.
Era uma noite fria.
***


(*na melhor das hipóteses, soariam no máximo como alguém cantarolando "Don't Fear The Reaper". Em um tom um pouco mais grave)

Thursday, June 08, 2006

Mais material do pântano mental 31% messed up...

Lovecraftmythosmedacaronaplease

A míriade de olhos me perseguia todas as manhãs. O corpo gelatinoso já não disfarçava sua presença; ao contrário, buscava se mostrar, forte e flexível. Os gigantes pseudópodes se moviam a velocidades impressionantes, e quase nunca se atrasavam. Passavam todos os dias pela mesma rua. O compartimento de carga, orgânico e cheio de vida, se abria, e me levava junto aos outros seres que se convenciona chamar de humanos (ainda que, humanos de verdade, não devo ter visto mais do que quatro ou cinco dentro do ser bizarro). Nunca falhou, e sempre me deixava no lugar combinado. Ainda assim, ainda me parece muito medonho e insano pensar que, durante mais de um ano, peguei carona todas as manhãs com um ser daqueles, um shoggoth. E mais insano ainda é saber que, ocasionalmente, eles ainda me saúdam por aí, quando estou pela rua e tenho a [in?]felicidade de cruzar com um.
Como raios fui descobrir que ônibus são shoggoths? Que aquela coisa toda de passar a roleta, vale transporte e cobrador não passa de uma pantomima? Que nem um terço das pessoas que se encontram lá são realmente 'pessoas', no sentido estrito da palavra? Até hoje ainda acho que foi culpa do ar do centro da cidade...

(continua)

Sunday, May 28, 2006

Craftian

could you reveal, my friend?
the covers where you hide?
these darkest sides of you,
expose 'em without lie

poisoned sick thoughts
behind wicked red eyes
vicious black shoggoth
instead 'a human mind

***
Rascunho - uma de muitas inspirações no HP Lovecraft...

Saturday, May 27, 2006

Check The Clouds... - Parte #01

Naquele dia eu andava pelas ruas do centro. Pra ser mais exato, pela avenida Brasil, bem no meio do caos da reforma, que já durava mais de um ano. Era um dia quente, de uma primavera que já se confundia com o verão. Enquanto andava, observava o local. Tudo normal.
Olhei para o céu, observando as nuvens. De repente, entre elas, surgiu uma figura colossal. Não sei estimar seu tamanho, visto que estava a muitos e muitos metros, mas me lembro de sua imensa estrutura, esquálida e branca, o branco quebrado apenas pelo negro de duas enormes órbitas de onde saía um mortiço brilho vermelho. O Dragão Esqueleto voava pelo céu da cidade, sereno, sem que ninguém sequer lhe notasse... e enquanto voava, olhava pra mim, fixo e sem expressão.
Estranho foi o fato de que, apesar do monstro que me observava, não fui tomado por medo, ou pânico. Minha única reação foi parar aonde estava e ficar observando-o também, em seu lento vôo rumo à direção oeste.
Eu sentia, dentro de mim, que o estranho ser queria me dizer algo, mas não conseguia compreender o quê. Também não entendi porque as outras pessoas não percebiam a figura gigantesca que pairava no céu - será que só eu o enxergava?
Continuei fixo ao dragão, que na minha cabeça eu já chamava de Dragão Zumbi, até a hora em que o perdi de vista. Quando olhei ao redor, já havia pessoas que passavam me olhando, com uma expressão do estilo "o que é que esse louco aí tá olhando". Assim, resolvi seguir meu caminho e ir encontrar meus amigos, que me esperavam...

(continua...)

***

E estes beijos marginais que de mim roubaste e de ti roubei?