Naquele dia eu andava pelas ruas do centro. Pra ser mais exato, pela avenida Brasil, bem no meio do caos da reforma, que já durava mais de um ano. Era um dia quente, de uma primavera que já se confundia com o verão. Enquanto andava, observava o local. Tudo normal.
Olhei para o céu, observando as nuvens. De repente, entre elas, surgiu uma figura colossal. Não sei estimar seu tamanho, visto que estava a muitos e muitos metros, mas me lembro de sua imensa estrutura, esquálida e branca, o branco quebrado apenas pelo negro de duas enormes órbitas de onde saía um mortiço brilho vermelho. O Dragão Esqueleto voava pelo céu da cidade, sereno, sem que ninguém sequer lhe notasse... e enquanto voava, olhava pra mim, fixo e sem expressão.
Estranho foi o fato de que, apesar do monstro que me observava, não fui tomado por medo, ou pânico. Minha única reação foi parar aonde estava e ficar observando-o também, em seu lento vôo rumo à direção oeste.
Eu sentia, dentro de mim, que o estranho ser queria me dizer algo, mas não conseguia compreender o quê. Também não entendi porque as outras pessoas não percebiam a figura gigantesca que pairava no céu - será que só eu o enxergava?
Continuei fixo ao dragão, que na minha cabeça eu já chamava de Dragão Zumbi, até a hora em que o perdi de vista. Quando olhei ao redor, já havia pessoas que passavam me olhando, com uma expressão do estilo "o que é que esse louco aí tá olhando". Assim, resolvi seguir meu caminho e ir encontrar meus amigos, que me esperavam...
(continua...)
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E estes beijos marginais que de mim roubaste e de ti roubei?